Como não estar aflito e angustiado quando se tem certeza de que Deus está ao seu lado? E se ele resolver esmagar sua cabeça apenas porque pode? Que a história demonstre, não há muito critério pra decisões desse tipo.
Quem escapa a alguma tragédia logo trata de creditar a Deus o “milagre”. Pobre de quem morreu, que vai ficar sem entender o plano divino, que não é mesmo pra entender. É imperscrutável. Duro é contar pra família de quem partiu que foi o mesmo Deus que determinou os resultados diversos. Imagina como é difícil engolir, assistindo na TV, alguém dizer “Deus tava comigo e me salvou.” Deve ser, no mínimo, uma surpresa: “Ué! Mas Deus também tava sempre com o meu filho/marido/ente querido.” O plano de Deus é pra deixar qualquer um aflito.
Ter certeza de que Deus está do seu lado demanda algum egoísmo – sem intenção de ofensa. O que parece ser a confiança da fé demanda a ignorância do que se passou e se passa com o outro. Deus está com o Kaká, por exemplo, garantindo a ele um novo contrato com o Real Madrid, mas parece estar pouco se lixando pro que acontece na África, por exemplo, e que choca tanta gente – quando a imprensa dá jeito de nos tirar do delicioso conforto da ignorância. Ou ele se lixa, ou está tratando de gerar um continente inteiro de santos, imolados pela HIV, a fome, os conflitos étnicos, a guerra generalizada.
Pode ser que ele também não esteja por lá, porque o tal Cristo não é muito conhecido por lá. Mas, aqui, no Brasil, a maior parte das pessoas o conhece e julga conhecer bem. Mesmo assim, o que não falta é tragédia. Agora mesmo, no Hopi Hari, Deus escolheu matar uma menina num brinquedo. Imagina ir a um parque de diversões tranquilo, sabendo que Deus pode te matar a qualquer momento – e você ainda facilitando o serviço?! Banho de mar, com Deus vigiando, dá acidente de moto aquática! “É o plano de deus!”, vão tentar defender alguns. Aí teremos concordado: como é que dá pra ficar tranquilo com um Deus desse do seu lado?
Com Deus do seu lado, acaba valendo a máxima: “se ficar o bicho pega, se correr o bicho come”.