– O que você acha que tá fazendo?
– Como… como assim?
– Aí todo amigo dos meus amigos… Quê isso?
– Tô socializando, ora.
– Mas, você sabe que a gente não tem nada sério, né?
– Hein? O que isso tem a ver com seus amigos?
– Não… porque não quero que você fique… íntimo. Sei lá. A gente tá curtindo. Só isso.
– E por isso eu tenho que ser grosseiro?
– Não… só… – um outro casal de amigos interrompe a moça:
– Oi!
– Oi, queridos. Esse é o Paulo.
O cara faz cara de poucos amigos. O casal se desconcerta e pede licença:
– Prazer. Querida, depois a gente conversa.
Ela sorri, sem graça. Em seguida, reprime o rapaz:
– Que foi isso??? Todos os meus amigos gostando de você e agora isso?
– Achei que isso fôsse problema.
– Claro que não! Só não quero que você se iluda.
– Do que você tá falando?
– Você todo amigo dos meus amigos…
– Hein?
– Você tá levando isso muito a sério.
– Nunca disse isso.
– Mas, disse que tá gostando de me ver… que gostou dos meus amigos…
– E não deveria? Tinha que tá aqui contrariado?
– Não! Mas, a gente tá só curtindo. Só isso.
– E…?
– Você tá apressando as coisas.
– Como? Você é que quis me apresentar a todos os seus amigos.
– Mas, não é pra você ficar íntimo. Quer dizer… a gente não tem nada.
– Mas, se eu dissesse que não queria vir, você não tinha ficado chateada?
– Tinha. Quer dizer… não sei. Você é muito sério!
– Mas eu nem disse nada. Só disse que gosto de te ver. A gente saiu bastante e eu me diverti bastante. Que mal tem nisso?
– Tá vendo?
– Vendo o quê?
– Esse negócio de gostar de me ver.
– Hein?
– E essas explicações…
– Não tô explicando nada. Só não quero mal-estar. Exatamente porquê, pasme!, a gente ainda não tem nada. Não tem porque complicar isso.
– Olha! Olha!
– O quê?
– “Ainda”. Você disse ainda.
– Qual o problema?
– A gente não tem nada!
Um amigo dela se aproxima:
– Ou… tava pensando. A gente podia ir naquele bar novo na semana que vem, que tem aquela banda de jazz.
– Jóia! – ela respondeu. A gente vai, né, Paulo?
Ele apertou os olhos confusos:
– Pode ser… – respondeu reticente.
– Beleza então! A gente marca – encerrou o amigo.
– E agora? Não quer ir?
– O quê???
– Esse corpo-mole… Tá pensando em não ir? Você é esquisito, sabia? Achei que tivesse gostando de me ver.
Ele ficou perplexo, olhando para moça, sem responder.
– Que foi? – perguntou ela.
– Você tá conversando comigo? – ele olhou para os lados, embaixo da cadeira, como se procurasse alguém. Com quem você tá falando? É comigo?
– Quê isso, Paulo? Não tô entendendo.
– Você reclama que não falo nada, reclama que falo muito sério, reclama que tô gostando… tenho que gostar quando você me dá bolo, reclama quando me divirto, reclama d’eu querer te ver de novo… Não sou um robô, ora! Assim fica difícil curtir!
– Nossa! Fala sério! Parece até que a gente é namorado…