Graças a Deus

“Citando a Bíblia (…), africanos descendem de Cão (ou Cam), filho de Noé. E, como cristãos, cremos em bênçãos e, portanto, não podemos ignorar as maldições”

Sou convidado a entender que devo respeitar o entendimento de Marcos Feliciano porque, como costuma se defender, é o que ele acredita. Preconceito justifica-se como opinião. Quero dizer: não é preconceito ou desrespeito; é opinião – ou crença – e deve ser respeitada solenemente. Bolsonaro que o diga.

“Sem querer ofender”, nos habituamos a expressões como “lista negra”, “mercado negro”. O que é negro está associado ao que é ruim, mas, claro “ninguém quis ofender. São vícios de linguagem.” É também por vício de linguagem que utilizamos “gay” como se fosse ofensa. Melhor ainda é “seu viadinho”. “Sapata.”

Preconceitos podem estar tão impregnados numa cultura que não podem ser vistos. Integram-se tão completamente à cultura de um povo que passam a definir o caráter de uma sociedade. Mulher que gosta de sexo é vagabunda; homem na cozinha é viado. E ai de quem se ofenda: direito ao preconceito parece ser fundamental! Ofender-se é exagero e incompreensão e cabe apenas uma indignação silenciosa.

Acredito que pouquíssima gente seja capaz de calçar os sapatos alheios. Imaginar uma sobrevivente de Auschiwits tendo que ouvir “Hail, Hitler!” como se fosse inócua expressão de fé; um palestino vendo reforçar-se na televisão, de novo e de novo, a noção de que Israel tem um direito sagrado àquela terra prometida. Quem se revolte que uma tradução do Malleus Maleficarum defenda que a Igreja estava apenas aprendendo a servir ao Senhor exagera. “Isso está fora de contexto.” Naturalmente, são “coisas completamente diferentes” o meu preconceito e o preconceito dos outros.

O preconceito reforça a invisibilidade do ofendido: “eu já disse que me sinto agredido. É possível adaptar o comportamento? Enxergar-me?” A resposta descansa nos dados recentes do mapa do racismo do IPEA, no aumento dos crimes de ódio contra homossexuais e, pasmem, em 50 mil estupros de mulheres por ano. Em todos os casos, o preconceito garante: a culpa é da vítima.

P.S.:Stephen Fry não achou graça na afirmação de que a Igreja Católica é uma força para o bem da humanidade”.

http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-11-04/casos-de-estupros-cresceram-18-no-pais-aponta-anuario-brasileiro-de-seguranca-publica

https://www.youtube.com/watch?v=9TiqyO5JQZs

http://www.fjp.gov.br/index.php/banco-de-noticias/35-fjp-na-midia/2361-06112013-negros-ainda-recebem-22-menos-que-nao-negros-em-bh

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