Enquanto distribui carros para alguns por aqui, o pimpão senhor das galáxias castiga outros com tufões e tempestades tropicais no norte. Mesmo por aqui, apesar de ter aproveitado a redução do IPI para distribuir automóveis entre alguns de seus seguidores, o altíssimo anda distribuindo também azeitonas a policiais e inocentes, aparentemente sem se importar com suas orações e sua devoção.
A disposição de humor do todo-poderoso é até fácil de entender: quem nunca usou uma lupa pra derreter um brinquedo ou mesmo perseguir uma formiga? Dizem que o poder corrompe e que o poder absoluto corrompe absolutamente. Não precisa ser um grande matemático para fazer as contas de quanta corrupção pode haver para poder infinito.
O que acho difícil de entender é como a formiga pode olhar para a mão segurando a lupa e dizer do dono dela, “És bom!” “Deus dá o frio conforme o cobertor”; tudo bem, mas duvido que exista quem possa peitar a fúria de um fenômeno atmosférico feito o Sandy. Também duvido que haja alguém rezando pra que deus possa mandar outra prova de fé como essa. Se os estadunidenses mereceram a punição, por serem o país mais poluente do mundo, foi uma grande sacanagem de deus punir também os caribenhos. E se é esse mesmo o caso, é bom botarmos as barbas de molho: mais quatro catástrofes como essa e o Brasil está na linha de frente, 5º país que mais emite gases de efeito estufa. Se a punição é, como acreditaram, pelo apoio dos presidenciáveis aos gays, devemos nos preocupar ainda mais, porque Parada Gay como a de São Paulo não é todo lugar que tem.
“Mas há o livre arbítrio!”; então, se o bandido decide matar um policial que sai da igreja, depois de ter pedido proteção divina e mostrar-se pouco disposto a morrer, é a liberdade do assassino que vai prevalecer, não importando as orações da vítima. Estranha onipotência essa – para não falarmos dos valores morais do divino. Depois, “o plano de deus” justifica o atentado. Se deus pretendia matar o homem, parece cruel que tenha permitido que ele se casasse e que tenha tido uma filha, apenas para que ela ficasse órfã antes de poder ser independente. A esposa, contudo, ganhou nova oportunidade de provar seu amor a uma entidade tão mesquinha e perversa. Pois se há quem agradeça a deus pela bonita oportunidade do câncer…
Deus dá emprego milionário ao Kaká e mata milhares mundo afora, vitimadas por ignorância, fome, epidemias; abençoa um e outro empreendimento que prospera e devasta um país todo, com terremotos, enchentes e acidentes nucleares. Tenho curiosidade de ver como é a tabela de conversão do senhor. “Para cada cliente novo, 10 crianças decaptadas na Nigéria”; “Carro novo pro fiel, 7 inocentes mortos numa favela do Rio”. E segue a formiga, fazendo concessões, olhando pro próprio umbigo e mentindo para si mesmo um amor a uma divindade tão torpe e vil. Seguem reunindo-se em medo para tentar aplacar o humor bipolar de um monstro que, felizmente, só existe nas suas imaginações. Qualquer que seja a força suprema do universo, ela não pode ser esse canalha que seguem desculpando e justificando, cujos “mandamentos” encontram-se em escritos cujas origens não convém aos interesses particulares.
Segue o monstro a bolir com a criação e vão as formiguinhas em fila, ocupadas de suas vidinhas, a fingir amor pela lupa que tanto temem. O humor de um deus dos desmandos, do favorecimento, da necessidade de protagonismo, da crueldade e da morte em abundância é nosso retrato em imagem e semelhança.